O VAMPIRO
Anônimo do século XIX
Há duzentos anos, numa aldeia da Boêmia, existia uma bela jovem pertencente a uma família de um lavrador. De nome Maria, tinha um bom coração. Amava os pais, aos quais, desde a tenra infância, tratava de ser útil, encarregando-se voluntariamente de várias atividades domésticas. Por este motivo, também era estimada da sua família e da gente do povoado. As mães a citavam como um exemplo de amor filial, e de um procedimento digno de toda a consideração.
Maria tinha 18 anos quando chegou à sua aldeia um estrangeiro jovem e de boa presença, parecendo ser de alguma cidade, em razão do seu vestuário; pois, ainda que simples, era elegante, e as suas maneiras afáveis e corteses diferiam muito das que se usavam na aldeia. Maria, sagaz como era, não deixou de notar esta diferença e, desde esse momento, uma sorte funesta pareceu adejar sobre o seu destino.
O estrangeiro estabeleceu sua morada junto à casa dos pais de Maria, e, desta maneira, muitas vezes a encontrava. Não deixava de olhar para ela de uma maneira singular e tão estranha que fez cismar a pobre moça. Maria nunca tinha sentido, da parte dos moços da aldeia, quando para ela olhavam, a influência ou atração que sobre ela exercia o jovem estrangeiro, o que lhe deu, depois, desejos de chorar e, algumas vezes, de rir, sem saber por quê, sofrendo fortes palpitações do coração.
Passado algum, tempo, Hantz (era este o nome do estrangeiro) se animou a falar com a linda jovem e, desde então, ela não podia dormir. E se, devido ao cansaço, fechava os olhos, terríveis sonhos vinham agitar-lhe o sono. Era sempre o estrangeiro quem neles figurava, mas de uma maneira bem diferente: às vezes aparecia-lhe como um anjo do céu enviado para lhe oferecer a felicidade; outras vezes, como um demônio do inferno, que subia à terra expressamente para causar-lhe a perdição e levá-la consigo para as penas eternas. Então, a infeliz Maria lutava com esta horrível visão. Acordava sobressaltada, pálida e inundada de suor glacial; depois, era atacada de febre que lentamente lhe fazia desbotar as faces e os lábios, seguindo-se profunda tristeza que a consumia, ao mesmo tempo que angústias mortais lhe devoravam o coração. Enfim, Maria, pálida, magra e triste, já não parecia a mesma. Pobre moça!
Por muito tempo, ela lutou contra o seu destino. Encomendou novenas, rezou, invocou os santos, jejuou semanas inteiras. Nada disto, porém, lhe valeu, e a infeliz julgou que o céu a tinha abandonado e caiu em desespero.
Certa tarde, ao cair do sol, ela vinha sozinha da vila próxima. Andava depressa para que a escuridão a não apanhasse no caminho, visto que uma nesga de lua já nascia por sobre os morros distantes. Porém, lançando a vista para um pinheiral próximo do caminho, pareceu-lhe que um enorme fantasma lhe seguia os passos. Vislumbrou um misterioso espectro, que olhava para ela com olhos em chamas. Cheia de pavor, pôs-se a examinar, trêmula, aquela entidade fantástica. Procurando distinguir na escuridão aqueles contornos confusos, conseguiu ver bem distintamente que tinha dois chifres na cabeça, a língua vermelha e comprida, garras nas pontas dos dedos e os pés fendidos. Assustada, continuou a andar aceleradamente, conservando na imaginação a desmedida e horrenda figura que lhe aparecera.
De repente, ouviu uma voz suave que a chamava, e voltando-se, viu Hantz junto a si.
Ele disse, então:
—Maria, não te assustes! Não sabes que eu te amo, e que só desejo te ver feliz?
Neste momento, a lua cheia flutuava sobre o cume da montanha vizinha e, com a sua luz, a infeliz Maria já não via o horrendo fantasma que lhe parecera ter língua vermelha, grandes orelhas e garras.
A sorte já pesava sobre o seu destino. Perdeu o juízo e respondeu:
— Hantz, eu não estou com medo, e eu creio....
Hesitou, e nada mais pôde dizer.
Hantz, contudo, percebeu a sua perturbação e disse-lhe:
— Maria, eu bem sei que tu me amas, e deves ficar certa que, pelo céu ou pelo inferno, seremos felizes.
A estas palavras, a jovem estremeceu, e continuou a caminhar para sua casa acompanhada pelo estrangeiro, que. três dias depois, a pediu em casamento.
Seus pais, sabendo que Maria estava disposta a casar-se com aquele moço, cujo comportamento era exemplar, consentiram, e dali a 25 dias, a pedido do noivo, foi o casamento celebrado exatamente quando era lua cheia.
Maria, depois do casamento, parecia muito satisfeita. Todavia, ainda vivia incomodada, porque começou a ter sonhos horrorosos pela preocupação que tinha, motivada pela blasfêmia de Hantz, e por ele ter retardado o seu casamento até o dia da lua cheia. Isto lhe causava preocupações.
De repente, Hantz ficou triste, uma palidez mortal lhe cobriu o rosto e perdeu inteiramente as forças. Não quis consultar um médico, e quando a pobre moça lhe perguntava, chorando, qual era a sua doença, a resposta era um sorriso. Enfim, depois de constante padecimento, antes da lua cheia, Hantz morreu.
A sua morte foi muito sentida pelos parentes de Maria que, pela sua parte, ficou inconsolável por espaço de três dias, findos os quais, com admiração de todos, ela pareceu quase aliviada das suas penas.
Tinham já passado três ou quatro meses sem que Maria desse sinal algum de padecimento. Empregava-se no serviço da casa, seguindo a sua marcha antiga, exceto, porém, em ir à missa e em rezar, o que seus pais muito estranhavam. Nunca lhe ouviram falar em Hantz, e isto provava que ela já o havia esquecido. Mas, quando mal esperavam, ela começou a emagrecer e a tornar-se pálida a ponto de a considerarem tísica, visto que não apresentava sintoma de outra moléstia.
Sua mãe observou, ou pelo menos assim lhe parecia, que ela, ao levantar-se da cama, estava mais débil e mais abatida do que de tarde, principalmente no tempo da lua cheia. Incitada pelos cuidados de mãe, fez um pequeno buraco na porta do quarto de Maria, a fim de se convencer pelos seus olhos e ouvidos se a sua filha querida rezava de noite, ou, enfim, qual era o motivo do seu padecimento. Durante as primeiras noites em que espiou pelo buraco da porta, não observou coisa alguma extraordinária, e já as suas desconfianças se haviam desvanecido quando, uma noite...
Seriam onze horas e três quartos. Maria já se tinha deitado e a lua, saindo de uma nuvem, lançava os seus argênteos raios que, passando pela janela aberta, iluminavam o quarto. Então a mãe ouviu um gemido, depois uma voz débil, que dizia, sem dúvida sonhando:
— Oh, Hantz! Oh, meu amigo! Eu sou a tua esposa querida. Eu te amo.... Oh, sim! Eu te amo.... E, não obstante, me parece que as tuas caricias me fazem gelar o coração e me matam....
Depois, ela deu um doloroso e longo suspiro, e a mãe nada mais ouviu. Então olhou pelo buraco da porta e viu....
Qual não foi o terror que invadiu a sua alma! Esfregou os olhos, beliscou os braços para se capacitar de que não sonhava, e viu.... um vampiro!
Ela logo o reconheceu: era Hantz. Não aquele Hantz pálido, magro e descarnado pela enfermidade como estava no dia em que morreu, mas um Hantz robusto, fresco e vermelho como o tinha visto no tempo da sua perfeita saúde. Aquele espectro era Hantz, morto e enterrado no cemitério da aldeia havia mais de três meses....
Ela viu o cadáver redivivo em pé, junto à cama da sua filha e debruçado sobre ela, aplicando-lhe os lábios ao pescoço. Viu uma gota de sangue sobre o pescoço de Maria, que corria dos lábios trêmulos do espectro.
A pobre mulher, vendo isto, deu um grito espantoso e caiu desmaiada. Ao estrondo da queda, o pai de Maria, e toda a gente da casa acudiram. Levantaram a infeliz mãe, arrombarão a porta do quarto e nele só acharão o inanimado corpo de Maria!
Chamou-se o médico imediatamente. Este, porém, depois de fazer o necessário exame, declarou que não havia meio algum de lhe restituir a vida, porque não tinha uma só gota de sangue no corpo. E, por duas nódoas roxas que se avistavam no pescoço, iguais às que deixam as sanguessugas, conheceu-se a verdade do médico.
A mãe da infeliz Maria recuperou a consciência, mas, como contava o que tinha visto pelo buraco da porta, todos julgavam que estava louca.
Muitos dias depois deste acontecimento, a linda Joanna, vizinha e amiga dos parentes de Maria, foi atacada da melancolia em tudo igual à de que padecia a sua camarada. Tratou-se de espiar da mesma maneira por um buraco que se fez na porta, e viu-se o fantasma de Hantz a chupar-lhe, também, o sangue das artérias do pescoço, como asseverara a mãe de Maria.
O padre foi imediatamente chamado, e Joanna lhe confessou que, havia algum tempo, o espectro a visitava todas as noites, principalmente pela lua cheia, mas que nenhum mal lhe fazia. Contudo, como no pescoço já se divisassem duas nódoas roxas, o padre lhe rezou os exorcismos. Mas de nada valerão essas orações da Igreja: Joanna morreu poucos dias depois, sem lhe ficar no corpo uma só gota de sangue.
Igual fim tiveram mais cinco moças do vilarejo. Então o povo, amotinando-se, tomou o expediente de desenterrar o corpo de Hantz, a fim de ver se poderia cessar tão horroroso mal. Todavia, como a exumação realizou-se durante a lua cheia, achou-se a sepultura vazia.
Um doutor tanto pensou, tantos tratos deu ao juízo, que descobriu que os vampiros somente tinham o poder infernal de sair das suas covas durante a lua cheia. Conseguintemente, esperaram pelo minguante, cuja chegada se esperou com impaciência. E quando a lua apresentou uma diminuta parte do seu disco, correrão então a abrir a sepultura, e nele acharão o tal facínora que sossegadamente dormia com o sorriso nos lábios e com todas as aparências da melhor saúde. Atravessaram-lhe o ventre com uma estaca com tão boa vontade que nunca mais se levantou. Foi queimado e as cinzas lançadas ao vento. Este exemplo intimidou, sem dúvida, os outros vampiros daquelas terras, porque nunca mais se ouviu falar em semelhante flagelo.
The Vampire
Anonymous from the 19th Century
Two hundred years ago, in a village in Bohemia, there lived a beautiful young woman from a farmer's family. Her name was Maria, and she had a kind heart. She loved her parents and had been helpful to them since early childhood, voluntarily taking on various household tasks. Because of this, she was cherished by her family and the villagers. Mothers often cited her as an example of filial love and exemplary behavior.
Maria was 18 years old when a young, well-presented stranger arrived in her village. He seemed to be from a city, judging by his attire, which, though simple, was elegant, and his affable and courteous manners were quite different from those of the villagers. Maria, being sharp, noticed this difference, and from that moment, a fateful turn seemed to hover over her destiny.
The stranger settled near Maria's parents' house, and thus, he often encountered her. He would look at her in a peculiar and strange way that made the poor girl uneasy. Maria had never felt the influence or attraction from the village boys as she did from this young stranger, which later made her feel the urge to cry and sometimes to laugh without knowing why, as she suffered from strong palpitations of the heart.
After some time, Hantz (that was the name of the stranger) gathered the courage to speak to the beautiful young woman, and from that moment, she could no longer sleep. And if, out of exhaustion, she closed her eyes, terrible dreams would disturb her sleep. The stranger always figured in these dreams, but in a very different manner: sometimes he appeared as an angel from heaven, sent to offer her happiness; other times, as a demon from hell, who had risen to earth expressly to cause her downfall and drag her to eternal torment. Then, the unfortunate Maria would wrestle with this horrifying vision. She would wake up startled, pale, and drenched in cold sweat; afterward, she would be seized by a fever that slowly drained the color from her cheeks and lips, followed by a deep sadness that consumed her, while mortal anguish devoured her heart. Eventually, Maria, pale, thin, and sorrowful, no longer seemed like the same person. Poor girl!
For a long time, she fought against her fate. She ordered novenas, prayed, invoked the saints, and fasted for entire weeks. But none of this helped her, and the unfortunate girl believed that heaven had abandoned her, leading her to despair.
One afternoon, at sunset, she was returning alone from a nearby village. She walked quickly to avoid being caught by the darkness, as a sliver of the moon was already rising over the distant hills. But when she glanced at a pine grove near the path, it seemed to her that an enormous ghost was following her steps. She glimpsed a mysterious specter, which stared at her with fiery eyes. Filled with terror, she examined that fantastical entity, trembling. Trying to distinguish the blurry outlines in the darkness, she managed to see clearly that it had two horns on its head, a long red tongue, claws at the tips of its fingers, and cloven feet. Frightened, she continued to walk faster, with the immense and horrific figure lingering in her imagination.
Suddenly, she heard a soft voice calling her, and turning around, she saw Hantz beside her.
He then said:
"Maria, don’t be afraid! Don’t you know that I love you and only wish to see you happy?"
At that moment, the full moon floated above the nearby mountain, and in its light, the unfortunate Maria no longer saw the dreadful ghost, which had seemed to have a red tongue, large ears, and claws.
Fate was already weighing on her destiny. She lost her senses and responded:
"Hantz, I’m not afraid, and I believe..."
She hesitated and couldn’t say anything more.
Hantz, however, noticed her confusion and said to her:
"Maria, I know well that you love me, and you must be certain that, by heaven or by hell, we will be happy."
At these words, the young woman shuddered and continued walking towards her house, accompanied by the stranger, who asked for her hand in marriage three days later.
Her parents, knowing that Maria was willing to marry this young man, whose behavior was exemplary, consented, and 25 days later, at the groom's request, the wedding was celebrated precisely during the full moon.
After the wedding, Maria seemed very content. However, she still felt uneasy because she began having horrific dreams, troubled by Hantz’s blasphemy and by his delaying their wedding until the full moon. This caused her great concern.
Suddenly, Hantz became sad; a deathly pallor covered his face, and he lost all strength. He refused to see a doctor, and when the poor girl asked him, weeping, what illness afflicted him, his response was a smile. Finally, after constant suffering, just before the full moon, Hantz died.
His death was deeply felt by Maria’s relatives, and she herself was inconsolable for three days, after which, to everyone's amazement, she seemed almost relieved of her sorrows.
Three or four months had passed without Maria showing any signs of suffering. She busied herself with household tasks, following her old routine, though she had stopped attending mass and praying, which her parents found very strange. They never heard her mention Hantz, indicating that she had already forgotten him. But when least expected, she began to grow thin and pale, to the point where she was considered to have tuberculosis, as she showed no symptoms of any other illness.
Her mother noticed—or at least it seemed to her—that when Maria got out of bed, she was weaker and more exhausted than she had been the night before, especially during the full moon. Driven by maternal concern, she made a small hole in the door of Maria’s room to observe her at night and try to discover the cause of her suffering. During the first few nights, she saw nothing unusual and had almost dismissed her suspicions when, one night...
It was around eleven forty-five. Maria had already gone to bed, and the moon, emerging from a cloud, cast its silvery rays through the open window, illuminating the room. Then the mother heard a moan, followed by a faint voice that said, undoubtedly dreaming:
"Oh, Hantz! Oh, my friend! I am your beloved wife. I love you... Oh, yes! I love you... And yet, it seems that your caresses freeze my heart and are killing me..."
Then she let out a long, painful sigh, and the mother heard nothing more. She looked through the hole in the door and saw...
What terror invaded her soul! She rubbed her eyes, pinched her arms to make sure she wasn’t dreaming, and saw... a vampire!
She immediately recognized him: it was Hantz. Not the pale, thin, and emaciated Hantz from the day he died, but a robust, healthy-looking Hantz, just as she had seen him during his time of perfect health. That specter was Hantz, dead and buried in the village cemetery for more than three months...
She saw the reanimated corpse standing by her daughter’s bed, bending over her, pressing his lips to her neck. She saw a drop of blood on Maria’s neck, running from the specter’s trembling lips.
The poor woman, seeing this, let out a terrifying scream and fainted. At the sound of her fall, Maria’s father and everyone in the house rushed in. They lifted the unfortunate mother, broke down the door of the room, and found only Maria’s lifeless body!
A doctor was immediately called. However, after examining her, he declared that there was no way to restore her life because she didn’t have a single drop of blood left in her body. And from the two purple marks visible on her neck, resembling those left by leeches, the truth of the doctor’s diagnosis was confirmed.
The mother of the unfortunate Maria regained consciousness, but as she recounted what she had seen through the hole in the door, everyone thought she had gone mad.
Many days after this event, the beautiful Joanna, a neighbor and friend of Maria’s relatives, was struck by the same melancholy that Maria had suffered from. She was spied on in the same way through a hole made in the door, and the ghost of Hantz was seen sucking the blood from her neck’s arteries, just as Maria’s mother had claimed.
The priest was immediately called, and Joanna confessed to him that for some time, the specter had visited her every night, especially during the full moon, but that it did her no harm. However, since two purple marks were already visible on her neck, the priest performed exorcisms over her. But these prayers of the Church were of no avail: Joanna died a few days later, without a single drop of blood left in her body.
Five other young women from the village met the same fate. Then the people, in a fury, decided to exhume Hantz’s body to see if they could put an end to such a horrific plague. However, since the exhumation was carried out during the full moon, they found the grave empty.
A doctor, after much pondering and reasoning, discovered that vampires only had the infernal power to leave their graves during the full moon. Accordingly, they waited impatiently for the waning moon. And when the moon presented only a small part of its disk, they rushed to open the grave and found the wretch peacefully sleeping with a smile on his lips and all the appearances of perfect health. They drove a stake through his heart with such vigor that he never rose again. He was burned, and his ashes were scattered to the wind. This example undoubtedly intimidated the other vampires in that land because no more was heard of such a curse.
El Vampiro
Anónimo del siglo XIX
Hace doscientos años, en un pueblo de Bohemia, vivía una hermosa joven de una familia de campesinos. Su nombre era María, y tenía un corazón bondadoso. Amaba a sus padres y había sido de gran ayuda para ellos desde su niñez, encargándose voluntariamente de diversas tareas domésticas. Por eso, era muy querida por su familia y los habitantes del pueblo. Las madres la citaban a menudo como ejemplo de amor filial y comportamiento ejemplar.
María tenía 18 años cuando un joven, bien presentado, llegó al pueblo. Parecía ser de la ciudad, juzgando por su vestimenta, que aunque sencilla, era elegante, y por sus modales amables y corteses, muy distintos a los de los aldeanos. María, siendo astuta, notó esta diferencia, y desde ese momento, una fuerza fatal pareció cernirse sobre su destino.
El extraño se instaló cerca de la casa de los padres de María, por lo que a menudo se encontraban. Él la miraba de una manera peculiar y extraña, lo que ponía nerviosa a la pobre chica. María nunca había sentido la atracción o el influjo de los muchachos del pueblo como lo sentía por este joven extraño, lo que más tarde le provocaba el impulso de llorar y a veces de reír sin saber por qué, ya que sufría de fuertes palpitaciones.
Después de un tiempo, Hantz (ese era el nombre del extraño) reunió el valor para hablar con la hermosa joven, y desde ese momento, ella no pudo volver a dormir. Y si, por agotamiento, lograba cerrar los ojos, terribles sueños perturbaban su descanso. El extraño siempre figuraba en esos sueños, pero de una forma muy diferente: a veces se le aparecía como un ángel del cielo, enviado a ofrecerle la felicidad; otras veces, como un demonio del infierno, que había ascendido a la tierra expresamente para causarle la perdición y arrastrarla al tormento eterno. Entonces, la desafortunada María luchaba contra esa visión espantosa. Se despertaba sobresaltada, pálida y empapada en sudor frío; luego, le asaltaba una fiebre que le iba despojando lentamente del color en sus mejillas y labios, seguida de una profunda tristeza que la consumía, mientras la angustia mortal devoraba su corazón. Con el tiempo, María, pálida, delgada y triste, ya no parecía la misma persona. ¡Pobre chica!
Durante mucho tiempo, luchó contra su destino. Mandó rezar novenas, oró, invocó a los santos y ayunó durante semanas enteras. Pero nada de esto la ayudó, y la desafortunada joven creyó que el cielo la había abandonado, lo que la sumió en la desesperación.
Una tarde, al atardecer, regresaba sola de un pueblo cercano. Caminaba rápidamente para evitar que la alcanzara la oscuridad, ya que un delgado trozo de luna ya se alzaba sobre las colinas distantes. Pero cuando echó un vistazo a un bosque de pinos cerca del camino, le pareció que un enorme fantasma la seguía. Divisó un misterioso espectro, que la miraba con ojos llameantes. Llenándose de terror, observó esa entidad fantasmal, temblando. Intentando distinguir los contornos borrosos en la oscuridad, logró ver claramente que tenía dos cuernos en la cabeza, una larga lengua roja, garras en las puntas de sus dedos y pies hendidos. Asustada, siguió caminando más rápido, con la inmensa y espantosa figura acechando su imaginación.
De repente, oyó una voz suave llamándola, y al volverse, vio a Hantz junto a ella.
Entonces él dijo:
"María, no tengas miedo. ¿No sabes que te amo y solo deseo verte feliz?"
En ese momento, la luna llena flotaba sobre la montaña cercana, y con su luz, la desafortunada María ya no vio al temible fantasma, que había parecido tener una lengua roja, grandes orejas y garras.
El destino ya estaba pesando sobre su vida. Perdió el sentido y respondió:
"Hantz, no tengo miedo, y creo..."
Titubeó y no pudo decir nada más.
Sin embargo, Hantz, al notar su confusión, le dijo:
"María, sé bien que me amas, y debes estar segura de que, por cielo o por infierno, seremos felices."
Al oír estas palabras, la joven se estremeció y siguió caminando hacia su casa, acompañada por el extraño, quien pidió su mano en matrimonio tres días después.
Sus padres, sabiendo que María estaba dispuesta a casarse con este joven, cuyo comportamiento era ejemplar, dieron su consentimiento, y 25 días después, a petición del novio, la boda se celebró precisamente durante la luna llena.
Después de la boda, María parecía muy contenta. Sin embargo, seguía sintiéndose incómoda porque comenzó a tener horribles sueños, perturbada por las blasfemias de Hantz y por el hecho de que retrasara su boda hasta la luna llena. Esto la preocupaba mucho.
De repente, Hantz se puso triste; un pálido color cubrió su rostro, y perdió toda su fuerza. Se negó a ver a un médico, y cuando la pobre chica le preguntó, llorando, qué enfermedad lo afligía, su respuesta fue una sonrisa. Finalmente, después de un constante sufrimiento, justo antes de la luna llena, Hantz murió.
Su muerte fue profundamente sentida por los familiares de María, y ella misma estuvo desconsolada durante tres días, después de los cuales, para asombro de todos, parecía casi aliviada de sus penas.
Pasaron tres o cuatro meses sin que María mostrara señales de sufrimiento. Se ocupaba de las tareas domésticas, siguiendo su vieja rutina, aunque había dejado de asistir a misa y de rezar, lo que sus padres encontraron muy extraño. Nunca la oyeron mencionar a Hantz, lo que indicaba que ya lo había olvidado. Pero, cuando menos se lo esperaba, comenzó a ponerse delgada y pálida, hasta el punto de que la consideraron enferma de tuberculosis, ya que no mostraba síntomas de ninguna otra enfermedad.
Su madre notó—o al menos le pareció—que cuando María se levantaba de la cama, estaba más débil y exhausta que la noche anterior, especialmente durante la luna llena. Impulsada por la preocupación maternal, hizo un pequeño agujero en la puerta de la habitación de María para observarla por la noche y tratar de descubrir la causa de su sufrimiento. Durante las primeras noches, no vio nada inusual y casi desechó sus sospechas cuando, una noche...
Era alrededor de las once y cuarenta y cinco. María ya se había acostado, y la luna, saliendo de una nube, proyectaba sus rayos plateados a través de la ventana abierta, iluminando la habitación. Entonces la madre escuchó un gemido, seguido de una voz débil que decía, sin duda en sueños:
"Oh, Hantz! Oh, mi amigo! Soy tu amada esposa. Te amo... Oh, sí! Te amo... Y sin embargo, parece que tus caricias congelan mi corazón y me están matando..."
Luego dejó escapar un largo y doloroso suspiro, y la madre ya no escuchó más. Miró a través del agujero en la puerta y vio...
¡Qué terror invadió su alma! Se frotó los ojos, se pellizcó los brazos para asegurarse de que no estaba soñando y vio... ¡un vampiro!
Inmediatamente lo reconoció: era Hantz. No el pálido, delgado y demacrado Hantz del día de su muerte, sino un Hantz robusto, con aspecto saludable, tal como lo había visto durante su tiempo de perfecta salud. Ese espectro era Hantz, muerto y enterrado en el cementerio del pueblo desde hacía más de tres meses...
Vio el cadáver reanimado de pie junto a la cama de su hija, inclinándose sobre ella, presionando sus labios contra su cuello. Vio una gota de sangre en el cuello de María, corriendo desde los labios temblorosos del espectro.
La pobre mujer, al ver esto, soltó un grito aterrador y se desmayó. Al oír su caída, el padre de María y todos en la casa corrieron hacia allí. Levantaron a la desafortunada madre, derribaron la puerta de la habitación y encontraron solo el cuerpo sin vida de María.
Se llamó inmediatamente a un médico. Sin embargo, después de examinarla, declaró que no había forma de devolverle la vida porque no le quedaba ni una sola gota de sangre en el cuerpo. Y por las dos marcas moradas visibles en su cuello, que se parecían a las dejadas por sanguijuelas, se confirmó la verdad del diagnóstico del médico.
La madre de la desafortunada María recobró la conciencia, pero cuando relató lo que había visto a través del agujero en la puerta, todos pensaron que se había vuelto loca.
Muchos días después de este evento, la hermosa Juana, vecina y amiga de los familiares de María, fue golpeada por la misma melancolía que había sufrido María. Fue espiada de la misma forma a través de un agujero hecho en la puerta, y se vio al fantasma de Hantz chupando la sangre de las arterias de su cuello, tal como la madre de María había afirmado.
Se llamó inmediatamente al sacerdote, y Juana le confesó que, durante algún tiempo, el espectro la había visitado todas las noches, especialmente durante la luna llena, pero que no le hacía daño. Sin embargo, como ya se veían dos marcas moradas en su cuello, el sacerdote realizó exorcismos sobre ella. Pero estas oraciones de la Iglesia no tuvieron efecto: Juana murió pocos días después, sin una sola gota de sangre en su cuerpo.
Cinco jóvenes más del pueblo sufrieron el mismo destino. Entonces la gente, furiosa, decidió exhumar el cuerpo de Hantz para ver si podían poner fin a tal horrible plaga. Sin embargo, como la exhumación se realizó durante la luna llena, encontraron la tumba vacía.
Un médico, después de mucho reflexionar, descubrió que los vampiros solo tenían el poder infernal de salir de sus tumbas durante la luna llena. En consecuencia, esperaron impacientemente la luna menguante. Y cuando la luna solo mostraba una pequeña parte de su disco, se apresuraron a abrir la tumba y encontraron al desdichado durmiendo tranquilamente con una sonrisa en los labios y todas las apariencias de perfecta salud. Le clavaron una estaca en el corazón con tal fuerza que nunca más se levantó. Fue quemado, y sus cenizas fueron esparcidas al viento. Este ejemplo sin duda intimidó a los otros vampiros de esa tierra, porque ya no se oyó hablar más de tal maldición.